Relaxe, você é bonita.

16:50

Quando eu era bem pequena (mas bem pequena mesmo, tipo uns seis anos) eu queria ser como a Barbie. Lembro de perguntar para minha bachan  - que é vó em japonês - se tinha algum modo de meu cabelo ficar loiro. Ela disse que só pintando, mas eu era muito nova. Eu insisti. Então ela disse que compraria para mim um tipo de shampoo que clarearia meu cabelo. Ela não comprou, continuou lavando meu cabelo com o shampoo normal e dizia pra mim que sim, meu cabelo ficaria claro. Eu acreditava.
Eu cresci mais um pouco e fiquei com raiva porque eu nunca seria a Barbie. Pense: sempre fui bem alta, meu cabelo era cacheado e castanho, e nunca fui magrinha. Então claro que era difícil encarar a realidade de que eu nunca seria a Barbie. A Marcela de seis anos começou a "odiar" loiros apenas por causa disso. Acho que meu maior alívio naquela época era fazer piada de loira burra, porque eu me sentia melhor, mais inteligente. Mas relaxe, eu não odeio e nem faço mais piada com loiros, hehe.

Mais ou menos aos nove anos eu pesava quarenta quilos. Era assustador para mim, já que minha melhor amiga pesava vinte e oito. Eu me sentia tão gorda, tão feia. Sempre tentava compensar sendo bem humorada na escola, tirando notas altas ou com os desenhos que eu fazia.

E naquela época toda menina tinha um paquerinha, menos eu. Eu sempre fui a última da fila do lanche por ser a mais alta, sabe? Sempre fui a que ficava no fundo em uma foto para deixar os baixinhos na frente. E consequentemente era mais alta que os meninos. Ou seja, nunca tive um paquerinha. Por isso eu meio que era a única menina que eles podiam ser "apenas amigos" e contarem sobre suas novas paqueras, contarem coisas que se conta para amigos mesmo. A quantidade de cartinhas de amor que já entreguei dos os meninos para minhas amigas é tão grande que nem dá para contar. A verdade é que no fundo eu só queria uma carta também, por mais que não admitisse. 

Uma vez um amigo nosso perguntou se nos achávamos bonitas. Tínhamos doze anos. Uma disse sim, e outra disse sim, e a outra também. Quando chegou minha vez eu nem hesitei; disse não. Todos olharam para mim assustados. Uma delas falou: "Como assim você não se acha bonita?". Não me achava. Nunca havia me sentido bonita.

Mas hoje tudo mudou. Hoje eu me sinto sim bonita. Aliás, hoje eu parei de ter tantas neuras. Uma espinha nova? Ah, e daí? É normal. A mídia impõe um padrão de beleza ridículo, mas não precisamos segui-la. Não devemos segui-la. É triste ver a quantidade de gente que fica realmente mal por isso, se sente inferior, e gente que opta por cirurgias apenas para entrar no padrão. Eu nunca chorei por ser gorda ou algo do tipo, mas tenho uma amiga que chorava regularmente por se achar feia. A pressão para ser perfeita é muito grande na sociedade, e isso é uma bosta. Sim, uma bosta. A ditadura da beleza pode matar, como quase fez com a Andressa Urach, que passa por aquela situação horrível com o hidrogel. Mas ninguém precisa se render a isso. No momento em que você acha o equilíbrio mental e físico tudo fica ok e nada disso mais importa.

Então posso deixar só uma dica aqui no final? Anota aí: ser belo é ser feliz.

You Might Also Like

2 comentários